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Política
CONFLITO

Israel ataca núcleo do Irã e mundo fica em alerta

Especialista fala em marco geopolítico e detalha os efeitos econômicos e diplomáticos da ofensiva

Cecilia Belo

Publicado: 14/06/2025 às 06:00

 Um homem ferido está entre os socorristas em uma área atingida por um míssil disparado do Irã, em Ramat Gan, perto de Tel Aviv, nesta sexta-feira. / AFP

Um homem ferido está entre os socorristas em uma área atingida por um míssil disparado do Irã, em Ramat Gan, perto de Tel Aviv, nesta sexta-feira. ( AFP)

A noite da última quinta-feira (12) marcou um novo capítulo no cenário geopolítico do Oriente Médio. Com o codinome Operação Rising Lion, Israel lançou ataques aéreos de alta precisão contra diversas instalações estratégicas no Irã, mirando centros de enriquecimento de urânio, bases militares e alvos políticos do regime dos aiatolás, deixando mais de 70 pessoas mortas.

Menos de 24 horas depois, o Irã disparou mais de 150 mísseis balísticos e drones contra alvos israelenses, incluindo a região de Tel Aviv. O sistema de defesa Iron Dome foi acionado e, apesar de ter conseguido interceptar a maioria dos projéteis, houve registro de danos e ao menos 34 feridos em Israel.

"A gente pode tecnicamente dizer que há uma guerra total iraniano-israelense", afirmou o cientista político e internacionalista Thales Castro, em entrevista ao Diario.

Para ele, o episódio marca um ponto de inflexão nas tensões entre os dois países. "Os ataques têm o objetivo de quebrar a espinha dorsal do aparato nuclear iraniano, e as primeiras horas indicaram uma capacidade muito incisiva de impacto por parte das forças de Israel", afirma.

Os ataques nas regiões de Jerusalém e Tel Aviv, em Israel, e no Teerã, capital do Irã, continuam vindos dos dois lados, com perfurações dos escudos aéreos e Estados declarando alerta. Já há relatos de ataques simultâneos entre os países. 

Apesar da contundência dos ataques, o momento ainda é de expectativa. Se por um lado o Irã parece buscar responder com força, por outro, Israel afirma estar pronto para ampliar suas ações se for necessário. 

O mundo observa, com cautela, os próximos movimentos.

"É um momento extremamente fragilizante, de múltiplas guerras dilacerando pessoas, famílias e estruturas. O que a gente espera é que, em algum momento, os atores envolvidos saiam da retórica agressiva e busquem alguma conciliação", enfatiza o especialista.

Com receio da ampliação do cenário, nos Estados Unidos (EUA), o Presidente Donald Trump é pressionado a tentar retomar junto ao Irã o acordo de não-produção de armas nucleares. Uma das figuras mais proeminentes da extrema-direita no país, Tucker Carlson, alertou que a situação poderia "muito facilmente se transformar em uma guerra mundial", caso os Estados Unidos se aproximem de Israel, e que Trump foi eleito com promessas de acabar com as guerras na Faixa de Gaza e entre Rússia e Ucrânia.

Embora o Secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, tenha classificado a ofensiva israelense como "unilateral", distanciado o país, Trump sabia do plano e disse que o ataque foi "excelente".

A operação atingiu três eixos centrais: infraestrutura estratégica (como aeroportos e usinas), cadeia decisória do Estado iraniano (comandantes da Guarda Revolucionária, ministros e figuras-chave do regime) e, por fim, um impacto simbólico sobre a população, que há anos vive sob repressão da ditadura teocrática.

"A ideia é também gerar mobilização social para uma eventual queda do regime. Eu acho que isso é possível, mas não agora. O regime está muito bem calcificado nas entranhas sociais, no imaginário e nos aparelhos de Estado e controle", pondera Thales.

 

 

Economia sente reflexo 

Os reflexos ultraam a geopolítica e alcançam a economia. A ofensiva de Israel provocou oscilações no mercado internacional. "De imediato vimos um leve aumento do dólar frente ao real, chegando a R$5,58. No aspecto energético, o barril de petróleo Brent subiu para quase US$78, ainda que também tenha recuado um pouco depois", aponta Thales. Ele destaca ainda que, apesar das sanções internacionais que limitam a exportação oficial do petróleo iraniano, o país segue sendo uma potência energética relevante por meio de rotas extralegais, contrabando e redes paralelas.

As incertezas também afetam investimentos, bolsas e moedas emergentes, num cenário que especialistas já classificam como de "desestabilização no curto prazo". O cientista político explica que tudo gera efeito cascata: portfólios, bolsas, moedas centrais e até investimentos em blue chips são impactados pela instabilidade. 

Do ponto de vista diplomático, a resposta do Brasil foi considerada tímida e parcial por Castro.

O Ministério das Relações Exteriores emitiu uma nota condenando os ataques israelenses, classificando-os como violação da soberania iraniana, mas sem mencionar o histórico de ameaças de Teerã a Israel.

Thales Castro aponta a fragilidade do posicionamento brasileiro: "A nota do Itamaraty menciona apenas, de maneira unilateral, os ataques israelenses, sem considerar anos de ameaças concretas do regime ditatorial dos aiatolás contra Israel, inclusive no processo de aquisição de armas nucleares. Isso é problemático, porque o Brasil, ao se alinhar aos BRICS, onde o Irã foi recentemente incluído, tende a adotar uma posição mais simpática a Teerã, o que enfraquece sua credibilidade como mediador".

Castro também lamenta a ausência de uma resposta institucional mais robusta por parte da comunidade internacional. "A ONU, infelizmente, não está tendo a capacidade de resolver ou processar os grandes conflitos internacionais. O Conselho de Segurança está cada vez mais obliterado pelas ambivalências dessa nova guerra quente", conclui.

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